Muito pouco hoje existe
De tudo que aqui deixei
Um lamento e um canto triste
Foi que eu vi quando cheguei

O tempo levou embora
As coisas de estimação
Deixou um lugar que hoje
Mora triste a solidão

Eu vi num momento ainda
Que a natureza é capaz
De criar coisas tão lindas
E levar pra nunca mais

Quando falta o carinho
Que ganhava do seu dono
Acabou tudo sozinho
Sentindo meu abandono

Até o caminho de entrada
Do meu velho ador
Virou trilho de enxurrada
E a velha cerca arrancou

Minha casa sob o mato
Nem dava pra ver a porta
Foi esse o triste retrato
Que encontrei em minha volta

Deixei aqui muito cedo
E fui tentar nova vida
Chorei, muito eu tive medo
Na hora da despedida

Como tanto em minha idade
Me deu esta ilusão
Que mudando pra cidade
Nunca mais volta ao sertão

Dos anos que eu tive ausente
Hoje foi tudo lembrado
Machuca o peito da gente
Ao retornar o ado

Esse mundo dividido
Conturbando a minha mente
Me sinto um pouco perdido
Entre o ado e o presente

O ado é história
De tudo que eu vivi
O presente é uma vitória
De poder voltar aqui

No dia que eu for chamado
Por ter cumprido a missão
Meu mundo será enterrado
Nesse pedaço de chão